Visão Geral

O menor dos bairros, é inteiramente coberto por uma floresta e é a divisa com a cidade-irmã de Kantai Town, Aonami City. Essa floresta é lar de várias lendas e superstições como a existência de lobisomens ou uma mansão mal-assombrada.

Depois que seus "cinco minutinhos" a mais de sono viraram trinta, a garota corria para não atrasar o resto de seu dia. Não é como se tivesse um cronograma regrado, afinal seu trabalho tinha horas flexíveis que podiam ser rearranjadas por ela mesma, mas gostava de seguir seu plano para a semana.

Vinha de seu "esconderijo" com duas sacolas de potes de plástico sujos e utensílios para serem lavados penduradas nos ombros. Caminhava de maneira lenta e pouco atenta, devido ao sono resultante de uma noite mal dormida. Quase chegando em casa, acabou tropeçando, derrubando uma de suas sacolas no chão. Ficou encarando as talheres espalhadas pela calçada incrédula, com vontade de chutá-las longe e simplesmente fingir que nada aconteceu.

Contudo, ajoelhou-se e começou a juntá-las uma por uma, suspirando.

O cansaço era claro no rosto da Hasegawa. Os olhos estavam levemente inchados, com olheiras não tão profundas. Os cabelos estavam soltos, porém, estavam levemente bagunçados, e o caminhar da garota era meio arrastado. Havia passado à noite inteira praticando e treinando para o próximo show que faria, ainda que este não estivesse confirmado; por isso, fora liberada das aulas do dia após algumas ligações de seu manager. Esfregava os olhos, bocejando baixinho conforme andava em direção à porta da própria casa — ainda que esta fosse alugada, tinha um enorme carinho pela moradia. Estava prestes à enfiar a chave na fechadura quando um som estridente fez com que a garota desse um pequeno salto.
 

Procurou com o olhar a origem do som e encontrou rapidamente a pessoa da casa ao lado com algumas sacolas. Havia percebido também que alguns utensilios de cozinha havia caído no chão, e suspirou baixinho. Não podia deixar de ajudar a mulher. Colocou a chave no bolso, caminhando até os utensílios no chão e se abaixando, começando a recolhê-los também. 


— Está tudo bem? Alguma coisa de vidro caiu em você? — Perguntou com preocupação, estendendo a mão com algumas das coisas da mulher.

Juntava as coisas em um ritmo lento, mas constante. Notava a aproximação de alguém, mas estava fixada em juntar as coisas do chão.

— Obrigada. — Agradeceu, recebendo algumas das coisas. — Não me machuquei não, por sorte caíram apenas as colheres. 

E riu, de maneira seca e forçada. Terminando de juntar tudo, coçou os olhos e levantou o olhar, levantando-se e encarando a menina para agradecê-la. Fez uma pequena reverência, reconhecendo-a logo em seguida. Automaticamente ficou boquiaberta, mas tentou esconder a felicidade e nervosismo.

— ... Mais uma vez, obrigada. — Disse, sorrindo. — Acho que não tivemos a chance de nos apresentar, eu raramente saio de casa. E quando saio, fico alguns dias sem voltar. Enfim, prazer, Min Ji-Hae. 

Sorria, quase que de orelha a orelha.

— Fico aliviada por não ter se machucado. — A resposta saiu de maneira delicada dos lábios de Miou, a voz melodiosa soando claramente cheia de alivío ao perceber que realmente, a moça não havia se ferido. Por fim, acabou por se levantar, passando as mãos pela saia que vestia; — Colheres são inofensivas, ainda bem. — Comentou com um pequeno riso. 

E de repente o rosto de Miou ficou totalmente vermelho. Havia percebido que a mulher a havia reconhecido e uma pequena alegria se instalou no peito da morena, que deu mais uma vez um sorriso — meigo, brilhante e animado —, passando as mãos novamente pela saia e deu um passo para trás, decidindo fazer um pequeno agrado para a vizinha desastrada; 

— Min Ji-Hae-san, prazer! Eu sou Hasegawa Miou! ~  — E lançou uma piscadela para a moça, do mesmo modo que fazia quando se apresentava em shows, ficando totalmente corada. O sorriso enorme da mulher fazia com que a morena ficasse ainda mais feliz.

Já estava levemente nervosa com toda a situação, pois não sabia se iria conseguir se controlar o suficiente para não surtar. Entretanto, todos seus esforços foram jogados por água a baixo quando a garota decidiu fazer sua apresentação da mesma maneira que faz em cima do palco. 

Estava com tanto medo de que a maneira que estava sorrindo parecesse extrema ou até mesmo doentia que cobriu a boca com ambas as mãos. Soltou um pequeno gritinho, que fora abafado. 

— Eu... hã. — procurava palavras, mas estava quase que em tela azul. — Eu sou sua fã. É. 

E riu, envergonhada. Tinha quase vinte e cinco anos na cara mas parava para assistir televisão de vez em quando, e Miou era uma das únicas que conseguiu chamar atenção o suficiente para que Ji-Hae lembrasse seu nome e aparência. Acompanhava ela sempre que podia, achando-a extremamente fofa.

Com sua bíblia em mãos, Yokan andava pela calçada, olhando as pessoas e as cumprimentando. Reconhecia muitos dali, já que muitos que moravam ali visitavam a igreja, por motivos óbvios.
Chegando perto da casa de Ji-Hae, avistava-a ao longe, junto com uma criança, ela parecia um pouco nervosa. Desta forma, decidiu não atrapalhar, deixaria que as coisas acontecessem do jeito mais engraçado possível.

Tentando ser o mais natural possível, entrou nos jardins da casa de Ji-Hae e ficou, sentado nas cadeiras de fora, olhando a situação que ali ocorria.

Sequer notou a presença do namorado, completamente absorvida pela situação em que se encontrava. Com o pequeno sorriso e reverência que recebeu, quase desmaiou, dando alguns passos para trás e cobrindo o rosto com as mãos. 

Suspirou fundo, reunindo coragem. Retirou as mãos de cima do rosto, revelando um enorme sorriso. Então, encarou a porta da casa, após o comentário da mesma, e viu o namorado sentado. Da maneira mais cara de pau possível, fez uma careta de surpresa e apontou para a garota, super entusiasmada. 

Então, como se nada tivesse acontecido, voltou a encará-la.
— Oh, é meu... namorado. — comentou, meio confusa. Não estava mentindo, mas não era acostumada a comentar sobre esse assunto com ninguém. Mas acreditava que comentar isso com uma idol não faria mal. — E o prazer é todo meu! Eu que agradeço por ajudar a melhorar meu dia. 

Ele acenava de longe e indicava, com os dedos, se ela gostaria de entrar para comer alguma coisa, já que estava perto do almoço e não gostaria de ver ela andando sozinha.

Estava sentindo-se extremamente envergonhada com a palavra "namorado", afinal não estava acostumada com ninguém além das freiras o chamando daquele jeito. Então o encarou, sorriu, e voltou-se para a garota.

— Bom, acho que é melhor eu ir indo... — fez uma pequena reverência, segurando as sacolas para que não caíssem novamente. — Foi muito bom te conhecer! E boa sorte com o próximo show!!

Esperaria a resposta da garota, para então andar em direção ao rapaz e abrir a porta, entrando em casa.

Ele notava a reverência, estranhando. Ela já iria ir?

Se levantou e começou a andar até elas, não tão perto, mas o bastante para que elas ouvissem.

— Está na hora do almoço. Por que não entra e depois eu te acompanho até sua casa? — perguntou ele, com um sorriso em seu rosto.

Ficava um pouco nervoso, pois tudo isso poderia estar atrapalhando no possível emprego, mas não se importava, era um bom motivo e o Padre entenderia, também.

O sorriso no rosto tornava-se evidente, agora mais carinhoso e menos... creepy. Realmente estava feliz por ter conversado com a menina e surpreendeu-se mais ainda com o convite do garoto. Quase com as chaves dentro da fechadura, encarou-a, novamente, levemente corada.

— Não incomodaria! Raramente temos companhia, seria legal variar um pouco. — E riu, meio envergonhada.

— Vamos, vamos! Pelo jeito Ji-Hae gosta bastante de você. Deixa eu mimar ela um pouco, por fav- — falava ele, em um gesto com a mão livre, abanando o ar para si, quando, de repente, notou a noite cair e isso fez o seu sangue ferver.

Seus olhos orbitaram para atrás e tudo ficou escuro. Por um momento, achou que iria perder o controle. Começou a chorar.
As lágrimas que desciam de seu rosto eram de medo e pena. Tinha pena daquela pequena garota estar ali e ainda mais de Ji-Hae.
Acredita-se que foram as lágrimas que seguraram sua transformação. O medo e a pena seguraram seu desejo.

A bíblia caía ao chão, levantando um pouco de poeira. As mãos antes positivas foram até sua cabeça e ele se ajoelhou. Bateu a cabeça no chão com um pouco de força desnecessária e procurou pela bíblia, arrebentando todas as gramas e vegetações que suas mãos sentiam.
Ele encontrou a bíblia e a abraçou. Era possível ouvir murmúrios e um bom religioso entenderia os murmúrios. Ele rezava e, assim que terminou de rezar, seus olhos voltaram ao normal.
Ele encarava o chão e, por alguns segundos, ficou sem saber o que fazer.

Subitamente, levantou-se e, pegando a chave da mão de sua namorada, abriu a porta e fechou em seguida. No fim, ele parou em frente aos porta-retratos, encarando todas as pessoas que pode machucar – focando, principalmente, em sua amada.

O sorriso permaneceu em seu rosto até que viu Yokan chorando. Em menos de segundos, havia colocado todo o corpo em frente de Miou, com um pouco de esperança que se o rapaz perdesse o controle, talvez atacasse apenas ela, dando tempo para a idol correr e se esconder. 

Ficou em completo silêncio, encarando-o, analisando tudo e torcendo para que nada de ruim acontecesse. Ao vê-lo entrar em casa, suspirou, de alívio, voltando-se para a garota em seguida. 
— Eu sinto muito por isso, ele... bom, é uma longa história. Podemos remarcar o encontro para outro dia. — e forçou um sorriso, seguido de uma reverência, em seguida entrando em casa rapidamente. 

Saiu com ela e, antes que ela fechasse a porta, pegou sua mão e encarou os seus olhos.

— Se cuide, meu amor. Voltarei pra cá, então deixe uma chave de segurança — o sorriso ia crescendo e os dedos iam, vagarosa e levemente, acariciando a mão de sua amada.

Por fim, se virou e foi embora.

Após despedir-se e trancar as portas, esperou por um ônibus e seguiu seu caminho. 

Com auxílio do Google Maps, acabou afastando-se do perímetro inferior da cidade, onde localizava-se a moradia de Vlad. Agora bastava se decidir onde visitaria primeiro. Não tinha muitas opções interessantes naquele pequeno distrito, mas também não pretendia transitar de um para outro, pelo menos não desacompanhada. Sentou-se em um banco no ponto de ônibus apenas para descansar. Era uma manhã meio acinzentada, parecendo que começaria a chover a qualquer momento, e Lily preferia dias ensolarados. Não gostava muito do escuro, não ao ponto de ter medo, mas ao ponto de se sentir desconfortável.
- Mmmmm - Murmurou, atentamente fuzilando a tela do celular em busca de algum ponto interessante na cidade enquanto sussurrava para si mesma. - Cemitério ou Igreja? Cemitério não é exatamente um ponto turístico, então... Igreja?

MDT - Estrada 53