From Hollow Heart to Hollow Night

Na monotonia em que vivia, o som do vento nas árvores era apenas cortado pelo bater sutil do bambo contra a pedra no ritmo ditado pela outra ponta que se enchia de água antes de abaixar e liberar a carga para então se levantar de volta e recomeçar o ciclo rítmico daquele pequeno chafariz.

Ainda que estivesse ainda voltando para casa, o som rítmico ainda soava em sua mente conforme seus pés pareciam cada dia mais pesados para seguir por aquele caminho quando retornava da aula - vivia sozinha, de uma maneira saiu de casa tanto pela proposta dos pais como por vontade própria, considerando a função religiosa na casa onde cresceu.

Outra batida do bambo na pedra que agora acompanhava o ritmo dos seus passos contra a calçada - um sendo a parte leve que se enche de água e o outro fazendo o ritmo do ponto pesado contra a pedra. O sol do entardecer era inebriante na sua mente, ainda que não estivesse tão quente, não conseguia lidar bem com o calor que aqueles raios alaranjados - nem mesmo suava, apenas se encontrava exausta.

A batida ecoou em sua mente, conforme piscou os olhos. O peso do bambo poderia ser seus pés, ao mesmo tempo que seus olhos ou ainda seu peito; um peso que nunca conseguiu justificar, e quem nem se lembrava a quanto tempo carregava consigo. Um peso que fazia seus olhos ficarem tão pesados ao ponto de ter aquela vontade constante de querer dormir, da sua vontade de permanecer na cama e não querer levantar. Claro que deveria se esmerar nos estudos, mas, seu destino era basicamente certo sobre tomar os negócios da família. E ainda sim, era aquele seu futuro inegável?

Ao que viria a batida seguinte, o som imaginário da fonte parou antes mesmo da batida, sendo substituída por um silêncio opressivo. Não havia som das árvores, ou mesmo o som da sua respiração - por um momento nada existia quando o ultimo raio de sol bateu no oeste antes de se tomado pelas sombras. Foi como se o tempo tivesse parado por um instante que até mesmo pareceu a eternidade, antes de enfim a garota que voltava para casa respirou fundo e abriu os olhos, enquanto a sua frente, mesmo que por um momento, viu uma sombra humanoide que lhe pareceu tão real quanto o ar que lentamente esfriava ao seu redor.

Uma piscada de luz do poste, a sombra vacilou até que a luz enfim se estabeleceu e aquela presença desapareceu completamente. O tempo voltou a seguir, o som do vento das árvores retornou, mas, dessa vez, não havia mais o ritmo da fonte. Mitsuko, a estudante, deu uma olhada ao seu redor com seus olhos semi-abertos e com marcas da sua falta de sono, virando para olhar o caminho que percorreu até aquele ponto e vislumbrar a cidade cuja as luzes se acendiam com a chegada da noite. Era uma visão que lhe concedeu um pouco de felicidade antes de se lembrar que a escuridão sempre vai existir quando for a sua hora... Ainda que focos de luz possam existir.

Afinal, aquele era o destino inevitável da escuridão sempre buscar engolir os focos de luz que permanecem a lutar durante a noite até que o dia enfim chegue e alcance sua desejada segurança. Mas, ainda sim, ela não podia deixar de se perguntar...

Humanos nascem na luz, banhados pela proteção da vida que lhes fora concebida, mas ainda há de se lembrar daqueles que abraçam sua escuridão... E também daqueles que nascem nela.

Quanto a esses, seria então luz sua perdição?

Com um suspiro, a loira afastou o pensamento. Era inútil, até idiota. Bancava uma filosofa em sua mente com ideais ainda mais idiotas do que a própria ideia que lhe passava a mente, quando na realidade ainda era apenas uma adolescente em crise.

Agora, de volta a realidade, ela voltou ao seu caminho, deixando para trás a escuridão que havia sido destruída pela luz, sem saber se aquela sombra existiria quando a luz não estivesse sendo observada.